terça-feira, 21 de agosto de 2007

HINO DE SANTO AMARO - (Pedro Tomás Pedreira) Lei Nº 1.312/1999

Santo Amaro, brioso, altaneiro,
Grande terra de veros heróis,
Teu passado, vibrante e ordeiro,
É orgulho para todos nós!
Tuas glebas, que a fama enobrece,
São o berço sagrado da glória,
E teus filhos, que a pátria enaltece,
São os vultos brilhantes da história!

Teus engenhos, com braços escravos
Que as canas cortavam ao sol,
Foram a seiva fecunda de bravos,
Da fugaz liberdade o farol.
Benemérita e leal cidade,
Teu presente, de paz e progresso,
Nos conduz, pelo bem e a verdade,
A um futuro de luz e sucesso!

Com Sergy, os Calmons e Teodoro,
Teus brasões sempre foram fieis,
E na luta pelo teu foro,
Eram eles os nossos lauréis.
Santo Amaro, por deus contemplado.
Com riquezas, com encantos mil,
Na Bahia tu és exaltado,
És a honra do nosso Brasil!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

BEMBÉ DO MERCADO


Comemorando a abolição da escravatura assegurada pela Lei Áurea de 1888, o Bembé do Mercado é o único candomblé de rua do mundo! "Bembé" é uma corruptela da palavra candomblé. Nos moldes das antigas senzalas, um barracão é montado no centro da praça do mercado, onde em dias normais funciona a feira livre da cidade. Ali, acontece um culto de candomblé a céu aberto. Antes do início do culto, a praça é tomada por manifestações culturais, tradicionais de Santo Amaro.

O CANDOMBLÉ DA LIBERDADE
(Ubiratan Castro de Araújo)

13/05/2003 - 'O Bembé do Mercado, em Santo Amaro, tem grande significado pára a afirmação da cidadania negra no Brasil. Eliminados quaisquer traços de subserviência agradecida à princesa pela Abolição, emerge a evidência histórica da luta popular contra o cativeiro e da força da cultura afro-brasileira como propulsora da resistência do povo negro no Brasil.'
Aos 14 de maio de 1888 começava uma nova luta para o povo negro de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo canavieiro da Bahia. Os ex-senhores de escravos, inconformados com a lei da abolição, proclamavam aos quatro ventos que nada havia mudado e pressionavam suas lideranças parlamentares para que a dita lei fosse revogada. Para mostrar que não estavam brincando, mobilizaram o aparelho policial da cidade para tolher os movimentos da população negra, de modo reter uma força de trabalho disponível para o trabalho, em regime de cativeiro. E assim teria sido, sem a resistência negra para fazer valer a liberdade. O movimento social pela abolição foi reativado para tirar da cadeia os que foram encarcerados a pedido dos ex-senhores, e para assegurar o direito de ir e vir de todos os “treze de maio”, como eram pejorativamente chamados os libertos pela lei da abolição.
Deles se dizia em verso popular:

Nasceu periquito,

Morreu papagaio,

Não quero conversa

Com “treze de maio”.

Passado um ano de luta contra a repressão e contra a discriminação, os negros de Santo Amaro resolveram festejar em praça pública o primeiro aniversário da lei da abolição. Os barões ameaçaram e a polícia proibiu o ajuntamento de negros. Apesar de tudo e de todos, no dia 13 de maio de 1889, milhares de pessoas afluíram ao Mercado de Santo Amaro. Não se viu nenhuma parada cívica, não se ouviu nenhum discurso de agradecimento à princesa. Amparados pela força dos seus Orixás, os negros “bateram Candomblé” no centro da cidade e no sábado seguinte jogaram um presente no mar em agradecimento aos Orixás. E mais, lançaram uma praga sobre a cidade: todo aquele que impedisse o Bembé (Candomblé) do Mercado sofreria um castigo exemplar.
Diz a tradição santamarense que, em todo esse tempo, até hoje, em apenas dois anos não se festejou o Bembé. Conta-se que, certa feita, um delegado valentão resolveu proibir o Bembé, até porque o Candomblé era perseguido em todo o Estado da Bahia. Pois bem, um mês depois a esposa dele foi vítima de um acidente automobilístico e ficou com um braço inutilizado. Na segunda ocasião em que não se fez o Bembé, uma grande enchente castigou o centro da cidade. E assim, ninguém mais ousou impedir que os negros exercessem sua liberdade de acordo com as suas tradições e sua cultura. Estava instituído o Candomblé da Liberdade. Cada ano que passa, o Bembé fica mais animado. Além do Candomblé do Treze de Maio, apresentam-se no Mercado de Santo Amaro as várias manifestações tradicionais: O Maculelê, a Capoeira, o Samba de roda, o Coça-coça, o Nego Fugido, na forma de um verdadeiro festival de cultura negra e popular.
O Bembé do Mercado, em Santo Amaro, tem grande significado pára a afirmação da cidadania negra no Brasil. Eliminados quaisquer traços de subserviência agradecida à princesa pela Abolição, emerge a evidência histórica da luta popular contra o cativeiro e da força da cultura afro-brasileira como propulsora da resistência do povo negro no Brasil. Longe de ser uma excentricidade baiana, o Bembé representa uma série de manifestações populares em todo o Brasil, especialmente nas áreas rurais do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que evocam a luta contra a escravidão e afirmam valores importantes da cultura afro-brasileira, tais como reisados e congos. Por tudo isso, o Treze de Maio não pode ser simplesmente apagado do calendário das lutas de libertação do povo negro brasileiro.

NÊGO FUGIDO


O “Nego Fugido” é um espetáculo da cultura popular santamarense que funde elementos da dança, da música, do candomblé e do teatro. Ele registra uma manifestação popular única, mantida há pelo menos um século pelos moradores de Acupe. Trata-se de uma encenação que recria, anualmente, a luta pela libertação dos escravos. Tendo como cenário as ruas de Acupe, os personagens de Nego Fugido revivem o ideal de liberdade almejado pelos escravos. Esta encenação traduz a versão dos moradores do local em relação à libertação dos escravos: uma conquista dos negros e não uma concessão dada pela princesa Isabel.
O “Nego Fugido” conta a história do negro que fugia, era perseguido nas matas e vestia-se de folhas de bananeira para se camuflar. É uma manifestação popular única, que se mantém desde o século XIX, originária de escravos africanos de origem Nagô. Trata-se de uma recriação das lutas da resistência negra contra o regime escravocrata, encenada até hoje pelos moradores de Acupe, distrito de Santo Amaro.
No cordel “ABC de Mourão” de autoria de Armando Azevedo encontramos a seguinte referência ao “Nego Fugido”:

No Acupe tem nego fugido
Procurando libertação
Conquistada com luta
Nunca com doação
O homem que almeja liberdade
Chora e sente saudade
Trabalha com o coração

Aqui, uma declaração de Dona Santa (Edna Correa Bulcão), 56 anos, publicada no Correio da Bahia:

As Manifestações da cultura popular sobrevivem em Santo Amaro da Purificação. Com as cabeças pintadas com carvão, os lábios avermelhados com crepom molhado e saias de folhas, pessoas de Acupe lutam para ter êxito em manter de pé o “Nego Fugido”, folguedo tradicional da região de Santo Amaro que revive a época da perseguição feita aos habitantes dos quilombos pelos capitães-do-mato e pelos militares.
Dona Santa (Edna Correa Bulcão), 56 anos, a conheceu o nego fugido quando era pequena e via a sua mãe ajudar à preparação da festa. Desde a morte desta, assume o comando desta tradição e hoje mata praticamente um leão por dia para fazer sair esta “brincadeira” como chama o “Nego Fugido”, todo o mês de Julho nas ruas de Acupe.
Teatro popular a céu aberto, utilizando como cena as ruas da cidade, o folguedo já foi filmado e tratado sob todas as formas, mas a ajuda que Dona Santa há tanto pedido nunca veio: “Fiz pés e mãos para apresentar o “Nego Fugido”, mas por falta de iniciativa, muitas coisas estão desaparecendo das regiões. Temos falta de trajes e de transporte para as representações. Também não temos uma sala adequada para armazenar o material”, declara Dona Santa, que, apesar todas as de dificuldades físicas, transmite a tradição de tecer saias de folhas para os novos membros do grupo e ensina os segredos do “Nego fugido” às crianças de Acupe. “Este divertimento tem mais de 100 anos. Não vou deixá-lo morrer”, completa.



Dê uma olhada:
“Nego Fugido“
Série: Bahia singular e plural
Duração: 25'
Filmado: NTSC/BETACAM
Gênero: Documentário
Realização: IRDEB/TVE
Ano: 1999

BREVE HISTÓRIA DE SANTO AMARO


A cidade de Santo Amaro está situada no fundo do Recôncavo Baiano. Desenvolveu-se em terraços do Rio Subaé, no ponto em que este recebe o Rio Sergimirim como afluente, tendo como núcleo a área formada pela Matriz de Nossa Senhora da Purificação e pela Casa da Câmara e da Cadeia (onde hoje funcionam a sede da Prefeitura e a Câmara de Vereadores).
O seu centro histórico, limitado entre as praças da Purificação e do Rosário, é composto por 27 ruas e possuía, em setembro de 1978, algo em torno de 75 prédios de valor histórico/arquitetônico, muitos dos quais já não mais existem.
Atualmente, Santo Amaro tem, aproximadamente, 600Km2 e, além da sede, possui os distritos de Acupe, Oliveira dos Campinhos e Pedras. No entanto, já teve 1.239 Km2 e 14 distritos. Destes, emanciparam-se Conceição do Jacuípe, Terra Nova, Amélia Rodrigues, Theodoro Sampaio e Saubara, que levaram consigo outros distritos.
A população nativa da região era formada pelos índios Caetés e, depois, pelos Potiguarás e Carijós. Sua origem é a mesma de São Francisco do Conde.
Quando, em 1559, a sesmaria foi doada a Fernão Rodrigues Castello Branco, seus limites iam de Marapé à Ponta de Saubara. Um ano depois, Castello Branco doou-a a Francisco de Sá, filho do terceiro Governador Geral que, em 1553, constrói o Engenho Real de Sergipe.
Com a morte de D. Francisco, as terras passam à sua irmã, Da. Felipa de Sá, casada com D. Fernando de Noronha, o Conde de Linhares.
Em 22 de novembro de 1602, Da. Felipa vendeu 400 braças em quadra a Gonçalo Alves, que, posteriormente, as transferiu para os Beneditinos em 26 de março de 1607. Ainda neste ano, a ordem beneditina ergueu a capela de Santo Amaro (ou São Mauro, também chamado de Santo mauro, cuja cacofonia geraria o Santo Amaro), que ainda existe na cidade.
Da. Felipa doa o engenho Real do Conde aos Jesuítas de Santo Antão de Lisboa, que nele constróem a Igreja de Nossa Senhora da Purificação. Em 1678 o tempo ruiu e não foi reerguido, sendo a freguesia mudada, provisoriamente, para a capela do Rosário, às margens do rio Traripe.
Com o assassinato do vigário do Rosário, a sede da freguesia foi mudada para a capela de Santo Amaro, em torno da qual já existia uma pequena povoação. Em 1700 iniciou-se, "hum tiro de pessa rio acima" (ou seja, a um tiro de canhão no sentido contrário ao do rio), a construção da atual Matriz de Nossa Senhora da Purificação.
D. Pedro de Noronha, primeiro marquês de Anjena, indo visitar, em 1716, as minas de salitre de Monte Alto, visitou também Santo Amaro e Maragogipe, pedindo então, à Coroa, a elevação de ambas à categoria de Vila.
A medida só efetivou-se em 5 de janeiro de 1727, no governo do Conde de Sabugosa. A demora deveu-se à resistência das Câmaras de São Francisco e Jaguaribe.
O município de Santo Amaro compreendia, então, as freguesias de Nossa Senhora da Purificação, São Domingos de Saubara, Nossa Senhora de Oliveira dos Campinhos, São Pedro de Traripe e Rio Fundo. Era presidente da província o Dr. Francisco Souza Paraizo quando as vilas de Santo Amaro e Cachoeira foram elevadas a cidades pela Lei nº 43 de 13 de março de 1837.
Em 1847 foi estabelecida a navegação a vapor regular entre Santo Amaro e a Capital, da qual dista em 50 Km em linha reta. Em 1855, uma epidemia de cólera (Choleramorbus), vinda de Cachoeira, matou metade da população urbana da cidade.
Durante os movimentos emancipacionistas nacionais, Santo Amaro sempre esteve em destaque, como nas Revolução dos Alfaiates e Sabinada. Na Guerra do Paraguai, enviou, em três batalhões de Voluntários da Pátria, 1.290 homens, além de grandes recursos financeiros.
Em 14 de junho de 1822, a Câmara de Santo Amaro reuniu-se em prol da Independência do Brasil, dando início aos movimentos que geraram o 7 de setembro de 1822. A "Leal e Benemérita" cidade de Santo Amaro teve participação ativa do início ao fim do processo da emancipação nacional.
A economia santamarense, desde o Século XVI até há poucos anos, esteve vinculada à cultura da cana-de-açúcar. Em 1757 existiam 61 engenhos funcionando. Por volta de 1870, restavam, ainda, 31.
Com um porto dentro do continente, Santo Amaro foi um importante entreposto comercial da região e o principal porto açucareiro do Recôncavo. Em 1802, as duas vias terrestres que interligavam o País tinham Santo Amaro como elo de união. A que vinha do Norte, desde o Maranhão, passando pelos sertões e a que vinha do Sul, desde Minas Gerais e Novas. O município ainda produzia fumo e algodão.
Nas últimas décadas do Século XX, novas culturas, com dendê, cacau e bambu foram implantadas. A cidade chegou a industrializar-se de forma satisfatória, com três indústrias metalúrgicas, duas açucareiras, duas papeleiras e uma de óleos vegetais, mas o nível industrial não se manteve.
Em 1759, a população de Santo Amaro era de 13.735 habitantes, sendo 5.782 na sede (que possuía 753 casas), 2.115 em Saubara (242 casas), 1.586 em Campinhos (234 casas) e 4.252 em Traripe e Rio Fundo (471 casas). Em 1970, possuía 46.593 habitantes, sendo 20.767 na sede.
Cidade histórica, Santo Amaro registra a passagem de relevantes vultos da nossa História Nacional, como D. Pedro II e Ruy Barbosa. Porém, mais que acolher visitantes ilustres, a cidade os gerou para o País.
Podemos destacar alguns nomes de filhos de Santo Amaro (alguns adotados pela cidade ou que a ela adotou): Adroaldo Ribeiro Costa, Alves de Carvalhal, Amélia Rodrigues, Arlindo Fragoso, Assis Valente, Barão de Itapicuru, Caetano Veloso, Caio Otaviano dos Santos Moura, Conde de Subaé, Conselheiro Saraiva, Emanuel Araújo, Eustáquio Primo de Seixas, Heitor Dias, João da Silva Campos, João Ferreira de Araújo Pinho, João Moniz Barreto de Aragão, José Cupertino de Lacerda, José Silveira, Mano Décio da Viola, Manoel Faustino dos Santos Lyra, Manoel Querino, Maria Bethânia, Marquês de Abrantes, Marquês de Santo Amaro, Miguel du Pin e Almeida, Monsenhor Gaspar Sadoc da Natividade, Odilon Otaviano dos Santos, Osvaldo Valverde, Padre Inácio Teixeira dos Santos, Padre José Gomes Loureiro, Pedro Ferreira, Pedro Francisco Rodrigues do Lago, Prado Valladares, Rogério Rego, Sérgio Cardoso, Theodoro Sampaio, Visconde de Oliveira, Visconde de Pedra Branca, Visconde de São Lourenço e Wanderley Pinho.
Dos prédios históricos que existiam em 1978 e que foram analisados e catalogados pelo IPAC-BA, muitos já não mais existem. Foram considerados de relevância histórico/arquitetônica e destacaram-se em um primeiro estudo:
1. Matriz de Nossa Senhora da Purificação;
2. Convento de Nossa Senhora dos Humildes;
3. Igreja de Nossa Senhora do Amparo;
4. Matriz de Nossa Senhora de Oliveira dos Campinhos;
5. Capela de São Brás;
6. Capela de Santo Antonio dos Calmons;
7. Capela de Bom Jesus dos Pobres;
8. Capela de Nossa Senhora do Desterro;
9. Igreja do Senhor Santo Amaro;
10. Igreja de São Domingos de Gusmão
11. Santa Casa de Misericórdia
12. Hospital Nossa Senhora da Vitória;
13. Sobrado à Rua Conselheiro Saraiva, nº 10;
14. Sobrado à Rua Conselheiro Saraiva, nº 29;
15. Sobrado à Rua Conselheiro Saraiva, nº 39;
16. Sobrado à Rua Conselheiro Saraiva, nº 47;
17. Casa na Rua General Câmara, nº 63;
18. Sobrado à Rua Conselheiro Paranhos, nº 7;
19. Casa de Câmara e Cadeia;
20. Casa à Rua da Matriz, nº 9;
21. Sobrado do Engenho Subaé;
22. Solar Araújo Pinho;
23. Solar Aramaré;
24. Solar Paraíso;
25. Sobrado à Avenida Presidente Vargas, nº 17;
26. Chalet na Praça 14 de Junho;
27. Sobrado do Engenho Novo;
28. Chácara Rocinha;
29. Casa da Fazenda São João.

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Fonte:
Inventário de Proteção do Acervo Cultural - Vol. II - Monumentos e sítios do Recôncavo, I Parte, 2ª Edição - IPAC-BA - Secretaria da Indústria e Comércio - Governo do Estado da Bahia, 1982.